A mudança da indústria do cinema “estrangeiro” ao longo dos anos

Como o progresso dos “filmes estrangeiros” mostra a necessidade de expansão do mercado cinematográfico

Por Felipe Barreto, Heitor Linhares e Vitória Vasconcelos

A pandemia nos fez perceber o quanto o cinema e suas produções estão presentes em nosso cotidiano, e o quanto é importante ter diversas fontes de produção para que se uma para, as demais continuem a produzir conteúdo para o consumo da sociedade.

Para observar melhor esse desenvolvimento, a maior premiação de filmes da atualidade, o Oscar, tem como uma de suas categorias a de “Melhor Filme Estrangeiro”, e dentro desta categoria os filmes indicados são aqueles com diálogos predominantes em língua não-inglesa. Existindo desde 1957, a categoria já revelou muitos títulos para o mundo, mas poucos deles realmente se destacaram.

Para perceber tal afirmação, aqui estão todos os indicados na categoria nas últimas dez edições. Você os conhece?

Dos 50 filmes, 4 não possuem informações sobre o orçamento gasto

Nos infográficos acima, é possível observar os investimentos de cada produção. Apesar de existirem algumas quantias milionárias, a média é bem inferior que a dos filmes hollywoodianos, como nos filmes da Marvel Studios, que chegam a custar mais de 350 milhões de dólares (Vingadores: Ultimato). Apesar disso, são gastos que se comparam às produções indicadas na categoria mais importante da noite do Oscar, a de “Melhor Filme” (Nomadland, vencedor de 2021 teve orçamento de 5 milhões de dólares).

Para auxiliar na coleta de dados para a reportagem, foi aplicado um questionário, no qual 62 pessoas, entre os dias 18 e 22 de agosto, responderam quais filmes indicados ao Oscar de Melhor Filme Estangeiro assistiram.

Ao analisar as respostas, observamos que a grande maioria não conhece os filmes entre os anos de 2012 a 2018: entre os 62, mais de 50 pessoas sequer viram um filme dos indicados. A quantidade de filmes assistidos neste período corresponde a aproximadamente 0,3%.

O ano de 2019 apresentou uma mudança significativa. Enquanto 7 pessoas assistiram aos filmes indicados ao Oscar em 2018, 24 assistiram no ano seguinte, o que representa um crescimento de 343% na quantidade de indicados estrangeiros assistidos.

Essa crescente continuou no próximo ano, em 2020, onde os filmes foram mais assistidos em relação a 2019 (41 pessoas), equivalente a um crescimento de 170% em comparação ao ano anterior. Tudo isso mostra como a descentralização do cinema estadunidense e de língua inglesa começou a ganhar destaque nos últimos anos.

O filme Parasita, ganhou destaque imensurável da Academia, quando além de ser indicado tanto para a categoria de Melhor Filme Estrangeiro quanto para a de Melhor Filme, acabou ganhando nas duas, se tornando o primeiro filme de língua estrangeira a ganhar na principal categoria do Oscar.

É possível observar no gráfico acima a representação das pesquisas pelos termos “Oscar” e “Parasita” durante o ano de 2020. O filme se tornou reconhecido pelas pessoas e tornou os filmes estrangeiros mais visíveis, como vinha acontecendo desde 2019 com o filme “Roma”, que mesmo com mais investimento que o longa sul-coreano não conseguiu tamanha visibilidade.

Em comparativo com as pesquisas de 2019 e 2020 dos filmes mais contemplados do Oscar podemos ver pelo gráfico abaixo que nem mesmo ao unir os dois filmes que ganharam as premiações nas categorias de Parasita eles poderiam alcançar a quantidade de buscas pelo filme sul-coreano.

O crescimento de 2018 para 2020 é evidente, porém, em contramão do que estava sendo apresentado, o ano de 2021 marcou uma decrescente no número de pessoas que assistiram as películas concorrentes na categoria “Melhor Filme Estrangeiro” (Somente 7 pessoas assistiram um ou mais filmes).

Salienta-se, neste ponto, que a indústria cinematográfica, assim como todos os setores da sociedade, passou por um ano atípico, já que a pandemia configurou-se como um fator agravante para a redução de filmes produzidos, o que, por sua vez, afeta diretamente na quantidade de produções assistidas.